Nos Bips...bips da vida!
Quem está imune ao tempo? Marcamos, medimos, nos esforçamos para controla-lo, o tempo todo! Na ilusão de não perde-lo!
Relógio e Timer são instrumentos indispensáveis na vida de uma Chef e isso é indiscutível, tenho 2 relógios e vários timers espalhados pela cozinha e as vezes todos eles ligados ao mesmo tempo, quando soa um bip..bip no ar o difícil é lembrar o que ele marca, a pasta? A carne? Ah! esse é o forno! É lembrar também é algo difícil na correria, e quando nessa loucura abro a geladeira e vem aquele branco, o que é mesmo que vim pegar? Olho para tudo e o branco continua, fecho a geladeira e volto a minha atividade para poder lembrar! Isso é mais comum do que se imagina, é a loucura do tempo ou melhor da falta de tempo. A verdade é que com tantos marcadores, esses bips..bips, não há bips..bips capazes de nos fazer lembrar o que o outro bip..bip está nos lembrando, se houvesse um eu seria uma usuária em tempo integral! E então chega-se a conclusão, esquecer também é uma saída! Principalmente esquecer que o tempo corre, e deixa-lo ir. Num desses dias, depois de muita correria, saímos daquela cozinha quente e estreita e cheia de trabalho e fomos a um Lamen Ya(casa que vende noodles). Queríamos relaxar esquecer um pouco, um refresh mental. Ao chegar notamos que estava cheio, as 2h da manhã, havia apenas uma mesa com 4 lugares, nos acomodamos, e uma garçonete se desdobrava para atender as mesas e o caixa, na cozinha um cozinheiro também corria para fazer todos os pedidos, fizemos nosso pedido que demorou uma eternidade e enquanto esperávamos, conversávamos sobre nada muito importante, mas algo nos irritava, foi então que o Roberto disse: Que poluição sonora! Só então é que notei que vários bips-bips preenchiam todo lugar e tocavam alucinados, havia um como uma musiquinha avisando que havia clientes no caixa, outro estridente que vinha da cozinha e um muito pior que tocou o tempo todo, um mais abafado vinha da máquina de lavar louça, vários outros acionados pelos clientes que queriam ser atendidos nas mesas. Ufa!
O incrível nisso tudo é que os clientes estavam imunes a essa invasão sonora, anestesiados a tudo, então começamos a analisar como aqui os japoneses estão presos aos bips-bips do dia-a-dia, são tantos! Nos carros as rés tem seus bips-bips, os caminhões além dos bips-bips também tem gravações avisando virar a Direita, a esquerda e ....., os semáforos esses são tantos, uns piam, outros apitam, outros ainda tocam musiquinhas infantis e etc. As estações de trem essas tem até CD que são vendidos para o pessoal poder escutar em casa! Só mesmo no Japão isso é possível! Lojas, bancos, correios todos tem o seus bips-bips, isso é tão comum que a invasão sonora acaba anestesiando, claro que para tudo há um bom motivo, são para ajudar os deficientes visuais, acho que somente eles é que realmente escutam, porque o resto estão cansados, distraídos pela poluição sonora, e ainda para finalizar em alguns bairros as 17h nos alto-falantes nas, toca-se uma musiquinha tipo valsa da despedida japonesa avisando a todos que é hora de ir para casa, que o tempo de ficar na rua acabou! É essa escravidão ao tempo, as obrigações cronometradas, anestesiam nossa mente e nosso corpo, o japonês está a procura daquele bip-bip que falei no inicio, o capaz de lembra o que outro está nos avisando, mas não está funcionando, acho até que com tantos lembretes o japonês está como eu, querendo esquecer um pouco, as vezes isso é uma dádiva, primordial para a vida, deixar o tempo correr e assim ganha tempo para viver, e nessas horas o ideal é desligar o despertados, tirar o relógio guardar o timer e evitar os lamen Ya com poucos funcionários!
Beijos
Chef Mizinha
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